Dia a dia do(a)s farmacêutico(a)s do Brasil: Desigualdades, abusos e violências – Fenafar

Por trás do balcão, uma mesma angústia toma conta de milhares de colegas farmacêuticos e farmacêuticas em todo o Brasil. Para além das receitas ilegíveis do dia a dia, os bastidores das farmácias revelam um cenário marcado por adversidades que vão muito além do simples ato de dispensar medicamentos.

De Norte a Sul, profissionais enfrentam desafios que vão desde a desigualdade salarial entre os sexos, passando por inúmeras formas de abusos, até o aumento da violência nos locais de trabalho.

Os salões, coloridos e bem iluminados por fluorescentes das farmácias, chamam a atenção. Quem chega em busca de solução para seu problema, eventualmente nem percebe quem o atende, se é um farmacêutico ou uma farmacêutica. Ali, lado a lado estão homens e mulheres cumprindo a mesma jornada e trabalhando, mas com uma diferença: o salário não é o mesmo.

Homens ganham mais que as mulheres.

Há uma resistência por parte das redes, em aceitar as leis de igualdade de gênero. A desigualdade salarial é uma ferida aberta na sociedade brasileira e também não encontra a cura nas farmácias do país. A recusa das grandes redes em aderir às leis que buscam promover a igualdade de gênero é um reflexo alarmante desse problema.

A recente afirmação da Drogaria Pacheco de que há “violência” na busca pela igualdade salarial é uma afronta não apenas aos valores fundamentais da justiça e dos direitos humanos, mas também uma desconsideração flagrante dos desafios enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho.

“A igualdade salarial é mais do que uma questão de justiça; é um imperativo moral e legal que todas as empresas devem respeitar”, enfatiza Soraya Pinheiro de Amorim, da Diretoria de Mulheres da Fenafar.

Recentemente uma Nota da Fenafar repudiou essa postura, ressaltando não apenas a indignação diante da recusa em fornecer informações sobre a equiparação salarial, mas também a necessidade urgente de se reafirmar o compromisso com os direitos das mulheres no ambiente de trabalho.

Discurso versus prática.

O abismo entre o discurso das empresas e sua prática real é uma realidade que assombra muitos profissionais farmacêuticos. Há uma discrepância entre a teoria e a prática no cumprimento das normas apregoadas pelas próprias empresas.

Em seu código de ética, a Rede de Farmácias Drogasil, no ponto sobre “Direitos Humanos” destaca que não admite “nenhuma forma de exploração, assédio, desrespeito e preconceito em nossas instalações e atividades.”

O contraste entre o escrito e as situações enfrentadas pelos colegas no dia a dia é gritante.

No que se refere ao quesito “Relações de Trabalho” o mesmo código da mesma empresa aponta que: “Não admitimos formas degradantes de trabalho: infantil, forçado, escravo etc…”

Não é o que se vê. Nas redes sociais há diversos relatos de profissionais relatando situações extenuantes de trabalho.

Ainda, no mesmo código de ética, no que se refere a “Legalidade”, a empresa diz cumprir “as exigências dos marcos regulatórios e da legislação em todos os âmbitos do direito: administrativo, ambiental, cível, comercial, trabalhista, tributário etc.”

Bem, considerar a busca pela igualdade salarial uma “violência” não é bem cumprir a legislação.

Para o Presidente da Fenafar, Fábio Basílio, “É preciso que as empresas sejam verdadeiras nos seus compromissos éticos e respeitem seus funcionários como trabalhadores responsáveis e capacitados, não apenas como peças de uma engrenagem”.

Salários aquém e abusos trabalhistas.

Os baixos salários, as condições precárias, as jornadas exaustivas de trabalho e falta de reconhecimento profissional, são mais alguns dos fardos que pesam sobre os farmacêuticos.

A remuneração não condiz com a complexidade e responsabilidade da profissão, o que leva à desmotivação e à busca por melhores oportunidades, situação que causa um enorme prejuízo à saúde pública afetando sobremaneira a qualidade dos serviços prestados.

“Não podemos aceitar que os farmacêuticos sejam tratados como mão de obra barata, quando desempenham um papel crucial na promoção da saúde e no bem-estar da população”, ressalta Fábio Basílio.

Violência e a falta de segurança.

Há ainda um outro aspecto que não pode ser esquecido. A violência que assola as farmácias do Brasil é uma ameaça constante à segurança e ao bem-estar dos farmacêuticos. Os recentes casos de assaltos e agressões destacam a urgência de se implementar medidas eficazes de segurança por parte das empresas.

O aumento da violência e dos assaltos a farmácias que ocorrem em todo o país, foi demonstrado por uma reportagem apresentado pelo programa dominical Fantástico da Rede Globo. https://globoplay.globo.com/v/12444059/

Segundo a reportagem os assaltantes não buscam apenas dinheiro. Os bandidos entram nas farmácias a noite em busca de uma medicação específica, seja para emagrecimento ou transtornos psíquicos. Normalmente os medicamentos são muito caros, e depois vendidos pela internet.

As autoridades indicam que as farmácias devam investir em segurança e não contar apenas com o fator sorte, para garantir o bem-estar dos seus profissionais farmacêuticos. Mas as redes de farmácias nada fazem e pelo jeito nem se importam pois não quiseram dar entrevista respondendo a reportagem.

O silêncio das grandes redes pode ser visto como um “sinto muito”. Mesma resposta dada pelo assaltante ao farmacêutico que foi assaltado duas vezes na mesma noite.

As redes tiram o corpo fora.

Sobre a postura das redes em relação à violência relatada na matéria, a presidente do Sindicato dos farmacêuticos de São Paulo, Renata Gonçalves, foi taxativa: “Não existe nada, nem antes nem depois, nem na prevenção e nem depois do ocorrido. Os trabalhadores se sentem totalmente desamparados pela empresa pois o ato dos bandidos é muito violento. É preciso dar um suporte aos funcionários.”

A Fenafar e os sindicatos filiados continuam sua luta incansável em defesa dos direitos e da dignidade dos farmacêuticos e farmacêuticas, enquanto exigem que empresas garantam respeito, valorização e condições de trabalho dignas, que os farmacêuticos merecem.

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